11 Mar
11Mar

As abordagens positivas ao envelhecimento sustentam uma concepção de que esta fase do ciclo vital é um momento propício para novas conquistas e para a continuidade do desenvolvimento e produção social, cognitiva e cultural.

Mas lidar com o envelhecimento e a longevidade é um problema individual?

As abordagens positivas (concepções alternativas aos modelos focados em déficit e declínio) são:

Envelhecimento saudável: processo de desenvolver e manter a capacidade funcional, o que inclui a promoção de comportamentos saudáveis e a redução dos fatores de risco.

Envelhecimento ativo: baseia-se na otimização de fatores referentes a quatro pilares: saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida, com o objetivo de promover uma maior qualidade de vida à medida que as pessoas vão envelhecendo.

Importante: “ativo” contempla, também, a participação contínua em questões sociais, econômicas, culturais, espirituais, civis e educacionais.

Envelhecimento bem sucedido: modelo desenvolvido por Paul Baltes, segundo o qual a velhice é uma fase não rotulada apenas pelas perdas, mas também reconhecida pelos ganhos e pela administração das transformações; o envelhecimento é um processo de desenvolvimento que ocorre desde o nascimento até a morte, por meio de mecanismos de seleção, otimização e compensação para maximizar ganhos e minimizar das perdas. Esses mecanismos explicam e viabilizam a capacidade dos idosos de compensar alguns declínios com outras competências ainda intactas. A proposta do envelhecimento bem sucedido depende da presença de três variáveis:

(i)                 baixa probabilidade de doença e incapacidade,

(ii)               elevada capacidade funcional física e cognitiva, e

(iii)              envolvimento ativo com a vida. 

Mas...

Qual é a responsabilidade do indivíduo em reunir as (pré)condições propostas em cada modelo das abordagens positivas ao envelhecimento?

Caberia ao indivíduo potencializar os próprios recursos e atuar na autoconstrução da subjetividade e da identidade ao longo do processo de envelhecimento?

Envelhecimento saudável, ativo ou bem sucedido são abordagens que endereçam aspectos relevantes em face da longevidade mas em que medida camuflam questões de caráter social, econômico e político?

O deslocamento para o sujeito de toda a responsabilidade pelos problemas que venha a enfrentar em seu processo de envelhecimento camufla questões que, na realidade, são questões de caráter político, social e econômico, e em um contexto social pautado pela desigualdade, esse mecanismo de responsabilização individual reforça a injustiça social.

* Cristina Goldschmidt é Sócia-Diretora da Consulting CG, onde atua como consultora e trainer nas áreas de desenvolvimento de capital humano e organizacional e como senior coach. Professora convidada dos MBAs na Fundação Getúlio Vargas (FGV) nas disciplinas: Construção de Equipes de Alto Desempenho, Papéis e Atuação do Líder, Liderança e Motivação, Modelagem Organizacional e Desenvolvimento de Carreira, dentre outras. Pesquisadora de Resiliência, Diversidade, Envelhecimento e Carreira. Mestre em Gestão Empresarial e MBA em Gestão de Projetos pela FGV, e graduada em Direito pela UCAM e em Letras pela UERJ.

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.